1 de outubro de 2013

saudades de ceumar

se acaso os canais
interromperem o fluxo
e os diques da cidade
não suportarem a força
de Posseidon
reza aos deuses todos
desvia o curso do destino
oferece a dádiva
da lembrança
toda distância
é pura imaginação
descansa do seu cansaço
enche os olhos
de alegria
canto que atravessa o dia
sereia que seria
o sonho de estar aí

um dia


27 de setembro de 2013

23 de setembro de 2013

pé na terra


quando a lua
mingua vazia
em touro
deita tuas sementes
em terras virgens
e férteis
deita tuas sementes
em berços rasos
e fecundos
quando a lua mingua
vazia em touro
deita tuas palavras
em meu útero
desfeito em sangue
deita teu destino
ao lado
do meu

3 de setembro de 2013

primavere-me


não há tempestade maior que a saudade
não há furacão maior que a paixão
as flores se espalham pela cidade
a chuva espalha flores no sertão


30 de agosto de 2013

por nós



















devia ser proibido
contar a vida dos mortos
devia ser proibido
falar da vida dos outros
devia ser proibido
ter a corda no pescoço
devia ser proibido
essa ponta de desgosto
podia estar permitido
ser livre em todo sentido
podia estar permitido
ser suspeita estar sujeita
podia estar permitido
o dito pelo não dito
podia estar permitido
aquilo junto com isto

18 de agosto de 2013

efêmeros

se os dias acabassem
restariam noites inteiras
ácidas
a placidez das tuas mãos
de mármore
sobre os ossos
da minha carcaça


9 de agosto de 2013

querência


queria que o texto todo viesse pronto
como um conto como um ponto
queria mais que 3 desejos
seus beijos seu gênio seu jeito de ser
queria apenas porque queria
não havia nostalgia agonia alegria alegoria
mas como a vida não é sonho
letra a letra a caneta o punho
faz virar só um projeto
esqueleto místico
manisfesto estético
quando
queria mesmo uma poesia
quem diria ao meio dia
poder encontrar você


*foto da gravura de lucian freud masp 2013

4 de agosto de 2013

a lua é mulher



a lua cheia tem perfume
de flor-de-laranjeira
a lua cheia cheira
perfume de flor

a lua vem
a lua vai
a lua volta
menina
a lua míngua
mina
desaparece

está no céu
de dia
de noite cresce
a lua cheia
chega
a noite tece

a lua cheia tem perfume
de flor-de-laranjeira
a lua cheia cheira
perfume de flor

a lua é mulher

é o que há


há horas mágicas
a todo instante
a sua volta
o que era antes
as hora mágicas
são como pórticos
complexo exótico
de energia estática
momentos ópticos
de poeira cósmica
nas horas mágicas
os pássaros cantam
os sinos dobram arcos
íris que pintam no chão
nas horas certas
mensagens telepáticas
fumaça enigmática
desenhos pela sala
que só o vento zéfiro
por fim dispersará


28 de julho de 2013

“Ninguém vai me frear Ninguém vai me dizer O que eu devo fazer nessa porra”



não
a liberdade é algo
que não se cerceia
nem se limita
só se conquista
a liberdade é o que carregamos
em todo osso que resiste ao golpe
em nossa carne humana fraca e doce
quando andarilhamos por caminhos
tortos
quando esquecemos a origem da dor
dai pouco importa
que a injustiça seja feita
porque sabemos
a que viemos
por quem estamos
aqui
em terra de coronel
manda mesmo o carcereiro
quem tem olho
fica esperto
ninguém recomendou alterar
a consciência antes
das leis
agora aguenta
a consequência do penso
logo resisto até existir
o novo tempo vai chegar
em breve
e o medo vai bater de frente
até se perder na onda
das partículas eletromagnéticas
nesse dia
o sol cederá ao horizonte
todas as cores
e a noite inteira vai tomar a rua
de estrelas meteóros e cometas
num mundo sem catracas
nem fronteiras
nesse universo imenso
sem sintomas que habitamos
sabemos
a liberdade é feita de oceano
vento e lágrimas
ora calmaria ora tempestade
metade fim de tarde metade furacão
pedras somos drãos grãos de areia
nômades e errantes no deserto
da perplexidade


16 de julho de 2013

nevermore


pulsos impulsos compulsões
amores de outros tatos
de outros tantos tempos
histórias que não me pertencem
tecnologia de ponta pontas
no cinzeiro da sala mala
aberta em cima da cama lama
na pele na sola da bota galocha
e aquele sonho medonho
que tende a voltar sempre
agora não me ilude não
me engana mais

11 de julho de 2013

daí

que achei tão lindo
ver o sangue escorrendo
dos meus pulsos
meus impulsos
achei mais lindo
quando o sangue
se infiltrou em meus olhos
tornando o mundo todo
mais vermelho
vermelho sangue
imundo
como as películas dos filmes
no cinema
como as boates de antes
de antigamente
ver a luz vermelha
de dentro dos olhos
por um instante
saindo do gosto do sangue
impulso saindo dos olhos
dos pulsos
um gosto de púrpura
um gosto de mácula
um gosto amargo de céu
entardecido
enegrecido
ao anoitecer

por que
sempre que mercúrio está retrógrado
sinto uma vontade incontida
de ti
sempre que mercúrio está retrógrado
uma imagem no espelho espalho
em mim
sempre que mercúrio está retrógrado
redundo-te redundo-me
rejuvenesço
esqueço
sempre que mercúrio está retrógrado
há algo a fazer
só não sei

o que

5 de julho de 2013

*_*


valha-me eros
dionísios
pitonisas
todo oráculo
satisfaz
a febre 
do futuro
antes
que o vulcão 
exploda
e que os pólos
invertam de vez
a vertente da terra
a força do furacão
torna-se tornado
e toda a tecnologia
se refugia
dentro 
das cavernas

1 de julho de 2013

pra você

vivo de improviso
como chuva de granizo
num pé de alface
feito ponta de faca 
em caco de vidro
feito o feltro da mesa
nos jogos de azar


nesse jogo
jogo meu corpo 
ao suicídio
vírgula
gargalo
gárgulas 
de notre dame
grata que sou
pelos melhores
sorvetes
da ilha
passagens
nas ruas
dos ventos 
do norte
que movem
relógios
e moinhos
por todas
as águas
as lágrimas
lástimas
latitudes
que frequentei
sem querer
nem pestanejar
tenho tido
uma urgência
latente
de quem
cansou
de esperar

28 de junho de 2013

trato feito

troco poesia
por um prato
de comida
por um trago
da sua
melhor
bebida
um sopro
de vida
troco problemas
por poemas
antigos
dúvidas
por alívio
me esquivo
troco de roupa
mudo de casa
queimo o arquivo
improviso
na noite escura
de lua nova
procuro
encontrar
sentido


23 de junho de 2013

tod@s por UM



queridos amigos de ontem de hoje de quando
escrevo essa carta email poema mensagem cifrada
para lembrar daquilo que eu não esqueço
dos tempos de antes de como sopravámos
tanta fumaça entre outros ativos até
que esquecemos
tempos onde o conforto
não nos pertencia e sim aos nossos pais
num outro país noutro mesmo lugar
quando a idade da pedra agia 
com mais intensidade na cidade
o dia inteiro a noite adentro
até cair em si no carnaval
amigos que não estavam nas ruas
ontem antes de ontem de sábado
e que não mostram suas caras nunca
por respeito e medo da opinião
comum alheia e pública
diga verdade meu caro
diga a verdade você também
diga no perfil do seu feicetruque barato grite
atire a primeira pedra de crack
quem nunca curtiu embalou um beck
ou inalou injetou expressou farinha
com clorofórmio
provavelmente
você mesmo que está aí e eu
tomando ambev agora e vendo
o jogo do brasil
temos deuses a vontade 
escolha as armas drogas nióbio diamantes
fico feliz fique feliz fiquei feliz
em saber e imaginar
aqui
a felicidade existe resiste
tira lição do infortúnio do labirinto do neurônio
jogando bombas de gás bombas de thc
lança perfume fumaça canábica lança a oportunidade
espada de são jorge arco de batalha
de coragem
de quem sai em busca do que sonha
na rua do que somos
ávidos de sortidas si us plau
matéria de prazer e descanso
pela pele que sua soa e reverbera
grata pela possibilidade
de somar e revidar
a cara sem máscara agora
urucum colorau colorífico lsd
eu estava lá estive lá
quando o mundo mudou
eu a fúria e o caos
de mãos dadas com morfeu
e as pitonisas e as musas
vi com outros olhos de terra molhada
vi e vivi quando a força bruta 
cedeu aos astros
aos músculos aos peitos
das moças bonitas
aos fios de bigode
dos homens barbados
daquele tipo que não foge age
com cara de 
não temos medo de cara feia
juntos nada temos a temer a esconder nada
a perder a ganhar barganha massa amorfa subversiva
versos e reversos
nada temos que não nós
e o nossos exércitos territórios explícitos e inexplorados
pleorexia autotélica
capitalismo límbico
transluciferações mefistofáusticas irremediáveis
diria o mestre ioda com seu timbre grave
cannabis
eu sou em deles estou com eles sou neles
cromossomos somos nossos sonhos
de todo dia
mais uma vez
naquele dia único 
naquele único dia
sem contra indicações sem contracdições
fartos de bulas fogos bolhas de sabão
de tantos antes por tantos onde
caminhamos no asfalto
semeando poeira e fumaça
amigos de sempre de quando em bando
tomando a rua bebendo fumando vivendo
dizendo paz 
até

quem não foi se perdeu no que quem viu viveu
legalizamos hoje
amanhã tem mais
e o mundo
não será
o mesmo

15 de junho de 2013

propicie

coragem pra faxina
pra rotina
coragem
pra encarar os fatos
remendar os trapos
desviar dos buracos
coragem 
coragem de manhã
de tarde
vem tempestade
e pega condução
transforma lotação
em paisagem
escreve versos
recolhe a roupa seca
do varal
coragem
coragem para o vento
para o tempo
aragem
coragem para o pensamento
coragem para o medo
desde cedo
invade
sertão no coração
cidade
irmão
coragem
coragem na batalha
na guerra

dentro da gente

7 de junho de 2013

nem sempre



sinto 
as raizes saindo
da ponta dos dedos
quando toco a terra
toda lama todo pó
tinge as mãos
e finge 
meu corpo
de verde

adoro
quando você
se veste de si
e diz pra mim
vem
adoro
despir 
meus pudores
em público
e no regalo
do dia
sentir o sal
o sol
na pele
e desejar 
seu colo
seu corpo
seu sonho
meu sonho
mais que nunca



30 de maio de 2013

solo



há algo em mim
que é urgente
aquilo que
invento
não posso
evitar

todo desabafo
é parte alívio
parte egoísmo



28 de maio de 2013

23 de maio de 2013

˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜


quando mexo a terra
com minhas mãos
manejo a força
e a enxada
encontro
a palavra
que procurava

palavras
são minhocas
em mim

4:20 am



são paulo é over
overdose
overbooking
SP 48 horas
batendo tambor
para os exus 
do concreto
fixo
civilizados
os povos 
que não 
consomem
álcool
em território
público
mas 
só sabe
disso
quem 
conhece
outros povos
outros
mundos
o brasil
não conhece
nem o nordeste
o periférico
não sabe
do centro
são paulo
é esquizo
frenética
é alterada
revira a noite
em milhões
de realidades
e lixo
um casal 
de garis
se ama
sentado
no banquinho
da praça
outros dois
ao final
dançam 
junto
com o público
é madrugada
e toda face
tem um lume
na noite 
de lua
crescente
os arrastões 
passaram 
e passarão
batido
desvio 
o meu caminho
de felicidade
são paulo
virada
é diferente
e a periferia 
acena ao centro
de bobeira
- levaram 
a minha prata, tia
a minha prata
é a distância
que separa
o sul e o leste
capão 
me representa
morro doce
santa inês
o ônibus 
pela manhã
é consolação
são paulo
para ser doce
custa caro
e engole os olhos
de quem vê
de longe
a redução de danos
é tudo
que a cidade 
precisa
o consumo
não importa
se da matéria
substância
ou energia
pode ser 
perverso
intenso
insano
consciente
errante
errando
do anhagabaú
ao parque da luz
sempre surge
uma insignificância
uma jóia
uma negligência
debaixo do tapete
são paulo
é a orgia 
das hordas
a desordem 
das horas
da grana ao caos
da grama ao pó
que em si 
fascina
e enfim
devora

18 de maio de 2013

se vira

meu nome é ressaca
acordo peso
na sua cabeça oca
da noite passada
acordo arrependimento
do corpo
que já não suporta
tanto
acordo os cacos
de vidro
fragmentos 
de ontem
que procuro
e encontro
ao amanhecer
no bolso
da bolsa
vermelha
no sangue
manchando 
o lençol
no espelho
de cara lavada
nessa lâmina
fina de sol




17 de maio de 2013

tentativa e erro




o fogo
da carne
se aplaca
ainda que
a alma
queime
no inferno
rarefeito
das 
péssimas
intenções

13 de maio de 2013

vertigo


você já ouviu 
falar
de itamar
assumpção
andou nas praias
de alter-do-chão
viajou pra paris
lisboa
amsterdão
sorriu
com flocos
de neve
no nariz
já foi feliz
sentio frio
fome
arrepio
já viu
o por do sol
em jeri
subiu as dunas
andou de navio
já velejou
em parati
por mim
já leu 
o jornal
de ontem
olhou nos olhos
da medusa
subiu 
a montanha
mais alta
sentou 
na beira
do precipício
pra precipitar
o frio
na espinha
a vertigem
e todas aquelas
conexões
que sabemos,
acontecem
?

12 de maio de 2013

fuso horário




as horas mágicas
estão pra chegar
arrume a casa
recolha as flores
o tempo de novos
encontros
está passando
pela rua
prepare o arranjo
o perfume
e o banho
de ervas
espante
o mau olhado 
e os mosquitos
com citronela
perceba quando
nas horas dádivas
o corpo ávido
clama algum suborno
drogasdrogasdrogas
café com açucar
pra manter o instinto
alerta
força de trabalho
não vá 
com tanta sede
ao pote
prefira
ter as pupilas
dilatadas
pra enxergar
melhor
as cores
desse desencontro

as horas mágicas
são as dádivas do tempo
a alma que levita
o corpo que alimento

11 de maio de 2013

mais



















amo
seus olhos
escuros
da noite
estrelada
de lua 
nova
seus olhos 
negros
sobrancelhas
olhos russos
sérvios
sírios
sonhos
olhos de 
jabuticaba
madura
amo 
seus olhos 
de longe
de perto
de dentro
de onde
de lince
de bruxo
amo 
seus olhos
quando 
me olham 
sem 
que eu veja
ainda que
eu só imagine
ou invente
amo
mesmo assim
de mentira
quando olho
fundo
quando olho
sempre
na tangente
dos seus olhos
meus olhos
de neblina
olham
mais
vêem
mais
amam
mais
amam
muito
mais
denso

entre tantos


fechado meus queridos! 
será um prazer!
devorar-lhes os ossos
arrancar teu coração
ainda quente
carne crua 
entre meus dentes
os melhores poemas
nascem 
daquilo que não temos
daquele que não somos
nem sabemos
para eliminar as crenças
dance
dance
pense
que o passado é feito
de um  tecido delicado
leve e permanente
colcha de retalho
espelho
imaginário
onde estamos
estáticos
perplexos
no meio da madrugada
reclamando os versos
do que não


por gentileza
ceda-me 
uma seda

por caridade
poupe-me
da verdade

até + ver
foi um prazer!

10 de maio de 2013

água mole


entre venus e plutão
rota de colisão
amsterdam
pela manhã
anéis de saturno
o céu de júpiter
é o limite
acredite
foi afrodite
quem me disse
que entre urano e marte
há um combate
é certo
a bola oito
no buraco negro
é meu palpite
não grite
que a velocidade
da luz
é bem maior
que o lapso
do tempo
e num piscar
de olhos
de Buda
tudo muda
tudo se ajeita
me ajuda
que entre o céu e terra
não há pedra
sobre pedra
que não ceda
água que mata a sede
rompe as nuvens
invade a tarde
até quebrar
sua dureza

9 de maio de 2013

viver é um tipo de metáfora




de quem é
o pranto
soluço
que ouço
baixinho
de quem é
o sangue
sobre a mesa
manchando
o papel branco
de efemeridades
de quem
essa calma
que o tempo
cansou 
de esperar

8 de maio de 2013

nuances




as fitas molhadas de chuva
as cores nas roupas da mina
as flores da sua saia 
contaminam a minha retina
desejo e medo da chuva
é coisa que não se combina
porque pra dançar de branco
coberta de adrenalina
a roupa colada no corpo
as formas contornam colinas
o bico do peito em relevo
sob a blusa transparente
da carolina
ser a terceira pessoa
na heterônima rotina
pra poder sentir o gosto
da língua nos lábios do moço
num beijo que nunca termina
mesmo quem não viveu
imagina

2 de maio de 2013

fragmentos




o delírio
da imagem 
me fascina
a realidade
imprime
ao vivo
e a cores
o olhar
disposto 
no passado
fragmentos
de luz
entre a iris
e a pupila
que a razão
processa
e a memória
guarda

26 de abril de 2013

abracadabra


é quando
você se dá conta
que seu desejo
está prestes
a se realizar
ao avesso
que você
pára
e pensa
endireito
ou atravesso
esse recomeço

24 de abril de 2013

cartas são momentos que chegam atrasados


só de ver
seu mapa astral
tenho taquicardia
e isso é ridículo
ridículo como todas aquelas
cartas de amor
que eu não escrevi
cartas são momentos 
que chegam 
atrasados

só de imaginar
o seu perfil
sinto arrepio
e isso é ridículo
ridículo como todas aquelas
cartas de amor
que eu escrevi e não li
cartas são instantes 
perdidos
no papel

só de pensar
e imaginar
não ver
desejo mais
e sinto um vazio
ridículo
como todas aquelas cartas de amor
que rasguei
por amor
cartas são planetas
vagando
lá no céu

só de sentir
seu cheiro no papel
sinto saudade
metade literatura
metade verdade
ridícula
como todas aquelas cartas de amor
que mandei 
que guardei
cartas são eternos
presentes
do passado

23 de abril de 2013

se tanto




o amor
qualquer livro 
de psicologia
barata
pode explicar
quero ver
tirar a roupa
e me botar
contra
a parede
dai sim
vai começar
a parecer
real

22 de abril de 2013

palavra foi feita pra jogar ao vento

feito semente

b0b4g3n5


moro na casa 11
da rua 1
quem vem
me visitar
moro na casa 11 
da rua 1
que vem
me ver
trabalho da 6 as 12
páro pra almoçar
trabalho das 12 as 6
depois
vou namorar
o meu amor mora
na casa 5
da rua 12
o meu amor
me disse
vem 
morar comigo
na casa 7
na casa 7
que medo
na casa 7
mora plutão
hum
não vai dar não
então eu canto
na casa 10
canto esse canto
em todo canto
da casa 10
mora o meu espanto
o seu vizinho
da casa 9
era posseidon
hum
era posseidon
não vai dar não
então eu canto
vou viajar
pra amsterdã
pra casa 10
canto esse canto
em todo canto
da casa 10
mora o meu encanto
em todo canto
da casa 10
mora o meu espanto
na casa 10
mora 
minh' admiração

15 de abril de 2013

apetrechos


tenho apreço
desnecessário
à consciência
tem sempre
aquele momento
maldito
quando todo o
impossível
olha dentro 
dos meus 
olhos
e me convida
pra dançar



o ato fálico de um papel em branco

o fato ávido da tinta preta

u m  p o e m a   e s p a r r a m a d o

delineia-se



sabe quando vc fica tão feliz

tão feliz
que fica triste

13 de abril de 2013

evite as pedras: levite

nada

escrevo torto nas linhas retas
lamber as fuças de um cachorro
também tem seu valor
fora isso
a janela do mundo pode ser aberta a qualquer tempo
olhar nos olhos é a vertigem que permite e repercute a troca
somos impostores transformando sorte em matéria
todo traço eixo lixo tudo o que somos
é

6 de abril de 2013

solo em estado líquido insolúvel


tenho morado
num estado de sítio
vivido
em estado de choque
alimentado
um estado de coma
reproduzido 
um estado civil
você já leu
seu poema de hoje?
especialmente dedicado?
ouviu 
o melhor
do gil
tom zé
alzira e
puta
que pariu
e ai?
sentiu lá dentro
como está aqui fora 
?
tocou
aquele vinil?
trocou de pele?
já sorriu?
quando eu não fui
você me viu
qualé
conheço
sorriso
cilada
de longe
não é todo convite
que eu aceito

5 de abril de 2013

a dureza das horas insones são como pedras de gelo num co(R)po vazio

brincou


não se importe
que esse toque
é só provocativo
advérbio adjetivo
eu sei
você não pode
ser fácil
porque
é tudo teste
sai faísca
olhos nos olhos
é só
de brincadeira
brincadeirinha
me devolve
esse sorriso
que esse love
é só figurativo
substântivo próprio
atrevido
eu sei
você não pode
ser difícil
porque
desde o início
sai faísca
olhos nos olhos

é só de brincadeira
pele pelo poro
afeto
é tanto ar
que me sufoca
afaga
todo fogo
se revolta
afoga
terra em água
intimidade
é muito mais
que tesão




20 de março de 2013

sem saída


ele não se sacia
pede que a chuva
precipite-se em tempestade

na manhã úmida
e quente
as ondas
devoram
o mar
os portos 
as cidades
toda água se agita

sua sede não passa
e ele não se sacia
quer mais vinho
e furacão
manda
correntes oceânicas
açoitar a praia
espalhar areia
seixos
sonhos
lixos
conchas

todo terror
tem um apreço

é maravilhoso
o princípio
do fim

19 de março de 2013

revelações


tenho medo
de tocar com a ponta dos dedos
sua ferida
receio de encontrar a saída
paixão de hermes
na pele envelhecida
temo
ser primitivo que sou
assustar os deuses
revelar-lhes as sombras
oh! lua desta noite
me afasta do pecado
dos teus olhos
e que em meu pensamento
sua imagem apague
qualquer dúvida
tenho medo
de tocar com a ponta dos dedos
minhas feridas
sexo aberto em flores
murchas
túrgidas
entumecidas
temo por ti
e fujo
para longe
fecho meus olhos pra ver
o que o destino
esconde


18 de março de 2013

casa de ferreiro





atire a primeira pedra
quem tem parede de barro
aquele que com ferro fere
é o mesmo que ficou ferido
confere a eros a flechada
nesse corpo
sem sentido
artêmis perséfane
gaia
e seu perfume
de narciso
atire a primeira pedra
nesse telhado de vidro


8 de março de 2013

antes tarde


mercúrio está retrógrado
e tudo o que era antes
fica indefinido
mercúrio está retrógrado
e a sua decisão
já não faz sentido
mercúrio está retrógrado
o que era dito
já virou não dito
mercúrio está retrógrado
e isso está escrito

mercúrio está retrógrado
do ponto de retorno
ao ponto de partida
mercúrio está retrógrado
para aquelas relações
estabelecidas
mercúrio está retrógrado
e a velha sensação
de que não há saída

mercúrio está retrógrado
e prazo final 
foi interrompido
mercúrio está retrógrado
e nosso passado
fica revolvido
mercúrio está retrógrado
tudo que me dizem
eu não acredito
mercúrio está retrógrado
vamos combinar
é definitivo

fica entendido

os vasos de flores
nas floreiras
tem as prerrogativas do sol

primavera no norte
as petúnias também florescem
no caos

27 de fevereiro de 2013

vamos falar +


ser múltiplo
com talento
polivalente
sem coragem
joana darc
sem elmo
pingo de chuva
na tempestade

ser um
ser dois
ser outro
ser vários
ser desnecessário
ser servo
ser césar
ser intermediário
ser proprietário
otário

ser cidadão
em telaviv
ser cristão
lá no japão

ser má em bagda
puta em maputo
louca em marrakeshi
enganada em gana
feliz em paris
fundamental em macau
chique em moçambique
triste em portugal
livre em cuba
tulipa na holanda

ser individual
e coletivo
ser ativo

ser social
e inventivo
ser vivo

ser exagerado
ser contido
ser contente
risiliente

ser completo
complexo
complacente
ser indecente
independentemente

23 de fevereiro de 2013

entreato


o must de minha performance
naquele dia
era hora do almoço mas já era tarde
demais
quando ele apareceu
nômade
de saia verde
olhos pintados
salto alto 
cílios postiços em mim
que acordei agora
ainda tonta de vodka
da noite passada
espreguicei o tédio
fiquei perplexa
mas não demonstrei
isso não tem remédio
eu sei
convidei pra sentar
ofereci um café
com leite
pensei
numa saída
entre o entretanto 
e o sinto muito
permaneci de pé
fervi por dentro 
como a água da chaleira
num fogo  
apagado
e eu transbordei 
em lágrimas
chorei um rio 
metaforicamente
na pia na sala
na sua ausência
que era a essência da fuga
da música
do verso
do meu fim de tarde
mas você apareceu
sem dúvidas nem acordo

19 de fevereiro de 2013


serei livre um dia
como as papoulas na normandia
ou os gatos no egito
serei livre como um susto
e agudo como um grito
rouco como poucos
escravo do delito
serei leve um dia
como as folhas e as aves marias
leve semente caroço
leve como o osso
da carcaça pendurada
de mia
como eu gostaria
dependurar o esqueleto
no fim
de um longo dia

11 de fevereiro de 2013

organicidade


a fúria escapou
não tenha dúvida
houve um tempo
que os filhos da deusa
sacrificavam humanos
e animais
e as colheitas eram fartas
e o solo era fecundo
depois vieram os homens
com seus deuses
monogâmicos
e monossilábicos
vieram os homens
e a química
mas o que eles não lhe disseram
o que eles não ousarão dizer
é que a química
já estava lá
estava lá
antes mesmo
do fim

25 de janeiro de 2013

7ºDP(endente)


foi discreta
a apreensão
levaram os bebês e as crianças
de quem eu era refém
refúgio
ainda estava assonada
do almoço e da notícia
quando bateram à porta
e entraram
sem cerimônia
cerimônia é tudo que não se precisa
numa hora dessas
e eu sorria calmamente
como no script
mandei o SOS
para as pessoas certas
que vieram me socorrer
não
não há nada de errado senhor
que mais eu posso dizer
que não me contradiga
eles vieram e lá fui
sem saber
minha eterna solidão
comigo
nem mesmo sombra
que me acompanhasse
que incrível
estava lá
no DP
e é como naqueles sonhos coloridos
todos queriam levá-los pra casa
os bebês e as meninas
pudera
eram tão lindas
será que alguém vai regar?
certamente não
que pena
morrerão virgens
depois da pressão
o apoio
a resposta do soccorro
foi efetiva
e imediata
eles foram gentis
de fato
não posso reclamar
como é bom ser poeta
numa hora dessas

13 de janeiro de 2013

amiga


preciso lhe dizer uma coisa
as coisas não estão fáceis não
tudo complicado
muito texto
pouca prática
praticamente um tédio
amiga
tava a fins de tomar uma cerveja
num boteco
no meio da tarde
sem comprometimento a vista
preciso de um porre
de uma porrada de coisa
quer saber
não sei porra nemhuma
e ainda bem
porque se soubesse
teria que agir
e você sabe
não me movo por nada
hoje o novo me abala
badala meu corpo para a decisão
indecisão da alma
quem disse isso do amor
não sabia nada
o amor não cabe dentro de uma lágrima
ardor que lateja
conta
gotas
sangue
pulso
antes
pulsante
amiga
não me venha com essa estória
não sei mesmo o que fazer
mas farei o que for preciso
não será agora
que irei fraquejar
prometo
lembrarei de você
do seu sorriso
na hora H
farei uma cortina com detalhes
um por um dos meus pesares
meus pingentes
meus colares
se for necessário

não olharei para trás

seguirei livre
como qualquer felino

9 de janeiro de 2013




adoro acordar manhãzinha
madrugadinha
antes mesmo do sol
nos dias nublados
adoro
quando a luz inaugura
e o dia pinta de azul
o céu de nuvens brancas
no mar raso de ondas
afogo todas as mágoas
adoro